quarta-feira, 29 de junho de 2016

Fearn - Amieiro por Osvaldo R Feres

Fearn por Osvaldo R Feres



Fearn é a terceira letra do alfabeto Ogham e está associado ao Amieiro.
A origem de palavra Fearn vem do proto-celta werna, em galês é gwern, e significa originalmente Amieiro.
Na mitologia galesa, o Amieiro é a árvore associada ao deus Brân, o abençoado e Branwen sua irmã. Bran, que significa literalmente “corvo” é descrito como um gigante e rei da Grã-Bretanha, é filho de Llyr e Penarddun, irmão de Branwen e Manawydan e meio-irmão de Nisien e Efnysien. Sua lenda é contada no segundo ramo do Mabinogi, Branwen ferch Llyr.
Neste ramo do Mabinogi é contado que o rei da Irlanda, Matholwch, pede a mão de Branwen em casamento para Bran, porém, Efnysien, meio irmão de Bran e Branwen não consente com casamento e mutila os cavalos de Matholwch, uma grande ofensa, pois os cavalos eram símbolos da soberania para os antigos celtas. Depois desse incidente, Bran entrega para Matholwch, como presente de desculpas, seu Caldeirão de Renascimento, onde qualquer guerreiro morto posto em seu interior ressuscitaria, mas perderia o dom da fala. Matholwch aceita o presente, toma Branwen como esposa e a leva para a Irlanda, ela concebe um filho, Gwern, que significa Amieiro, mas, mesmo assim, o rei não perdoa o insulto causado por Efnysien e incitado pelos irlandeses, bane Branwen para a cozinha e a maltrata diariamente. Branwen treina um estorninho e manda uma mensagem para seu irmão, para que ele a resgate e assim foi feito. Bran dirigiu-se para a Irlanda, atravessou o mar a pé e usou seu próprio corpo como ponte para que seu exército atravessasse um rio. Com medo de ser derrotado Matholwch propõe um acordo de paz com Bran, construindo uma grandiosa casa que o coubesse, pois Bran era um gigante, como presente, contudo, era uma armadilha de Matholwch que havia pendurado nas pilastras que sustentavam a casa, sacos de farinhas com guerreiros escondidos, para que pudessem atacar o exército galês de surpresa. Efnysien descobre a armadilha e esmaga as cabeças dos guerreiros irlandeses que estavam escondidos nos sacos de farinha. Reconhecendo sua derrota Matholwch nomeia seu filho ainda criança, Gwern, como novo rei, mas Efnysien aparentemente sem motivo, joga seu sobrinho no fogo, matando-o e dando início a guerra. Inicialmente os guerreiros irlandeses demonstram superioridade em batalha, pois os guerreiros mortos eram ressuscitados no caldeirão que Bran deu de presente a Matholwch, percebendo este fato, Efnysien lança-se dentro do caldeirão mágico, estourando-o e morrendo com este ato. Após a vitória do exército gales, onde apenas sete homens sobreviveram, Branwen morre de coração partido e Bran mortalmente ferido instrui seus companheiros a deceparem sua grandiosa cabeça que viverá e profetizará por mais sete anos até ser finalmente enterrada, guardando a ilha da Grã-Bretanha de futuros invasores.
Vemos neste mito que Branwen é a deusa da soberania da terra e Bran é o deus que irá resgatá-la e reestabelecer a ordem na terra que está arruinada pela guerra. A morte de Gwern, o amieiro, por seu tio Efnysien simboliza o sacrifício do rei que reflete a ordem da natureza, ou seja, a morte e o renascimento da natureza.

A Cabeça de Brân por Alan Lee

Em um texto relacionado ao Cad Goddeu, a Batalha das Árvores, é descrito uma batalha entre o deus Gwydion e o deus do submundo Arawn, ocasionado pelo roubo de um cachorrinho e uma corça branca de Arawn por Amaethon, o deus lavrador. A batalha só teria fim se fosse descoberto o nome mágico e secreto de uma pessoa de cada exército, assim sendo, Gwydion, o mago, descobre o nome secreto de Bran, um dos guerreiros que estava ao lado de Arawn, pelos ramos de amieiro que haviam em seu escudo através da seguinte canção:
De cascos firmes é meu corcel impelido pela espora;
Os altos ramos de Amieiro estão em teu escudo;
Bran és chamado, o dos ramos brilhantes. "
"De cascos firmes é meu corcel no dia da batalha;
Os altos ramos de Amieiro estão em tuas mãos;
Bran pelos ramos que seguras
Amathaon, o bom, prevaleceu."
Como vimos, o Amieiro é tradicionalmente relacionado aos escudos e ao deus Bran. As palavras Ogham de Morainn mac Moín relacionadas ao fid Fearn é “Vanguarda de guerreiros” ou seja, os escudos de proteção, já as palavras Ogham de Con Culainn reforçam esse sentido de proteção que o fid Fearn possui “Proteção do coração”.
A madeira do amieiro é resistente a água e é utilizada para construir pontes, mais uma vez está ligada ao mito de Bran que usou seu próprio corpo como ponte. Baldes também são feitos com a madeira de Amieiro como nas palavras Ogham de Maic ind Óc “Recipiente do leite” ou seja, o que guarda (protege) o leite.

Significado oracular:

Fearn o terceiro fid significa proteção, resguardo, retiro, afastamento, guardar, poupar, economizar, travessias, cautela, precaução, defesa, solidão, reflexão, cuidado limites e contenção. Representa todo tipo de proteção, seja física, mental ou espiritual.
Em seu aspecto negativo Fearn significa isolamento, depressão, dureza de sentimentos e paralisação. As vezes é necessário que o consultante abaixe a guarda, seja mais compreensivo e receptivo.

Em uma visão mais esotérica esse fid simboliza a capacidade de atravessar a ponte entre os mundos, aceitar as perdas e os sacrifícios necessários para o desenvolvimento espiritual e reconhecer a natureza cíclica da vida, morte e renascimento simbolizada pelo caldeirão de Bran.

Referências bibliográficas:

Livros:
BARROS, Maria Nazareth Alvim de. Uma luz sobre Avalon, celtas & druidas. Editora Mercuryo, 1994.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Editora José Olympio, 2012.
GRAVES, Robert. A Deusa Branca: Uma gramática histórica do Mito Poético. Editora Bertrand Brasil, 2003.
KELLY, Michael. The Book of Ogham. Ebook edition: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014.
KONDRATIEV, Alexei. Rituales Celtas. Editorial Kier, 2001.
LAURIE, Erynn Rowan. Ogam: Weaving Word Wisdom. Megalithica Books, 2007.
MARKALE, Jean. Merlim, o Mago. Editora Paz e Terra, 1989.
MATSON, Gienna; ROBERTS, Jeremy. Celtic Mythology A to Z. Chelsea House, 2010.
MATTHEWS, John. À mesa do Santo Graal. Edições Siciliano, 1989.
MATTHEWS, John. Xamanismo Celta. Hi-Brasil Editora, 2002.
MONAGHAN, Patricia. The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folkore. Facts On File, 2004.
MUELLER, Mickie. Voice of the Trees. Llewellyn Publications, 2011.
MURRAY, Liz e Colin. The Celtic Tree Oracle, a system of divination. Connections Book Publishing, 2014.
RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.

Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html

sábado, 4 de junho de 2016

Letras que representam pessoas no Ogham

Letras que representam pessoas no Ogham
por Osvado R Feres

Muitos têm me perguntado se há como identificar pessoas ou personalidades em uma jogada de Ogham e a resposta é sim!
O Ogham, assim como qualquer outro oráculo, possui uma gama imensa de interpretações e cabe ao oraculista saber discernir quando há ou não uma figura humana em questão. Aparentemente parece um pouco confuso, mas depois de um período de estudos e com a prática frequente, o oraculista cria um vínculo com seu oráculo, fazendo conexões que, até então, pareciam um tanto que obscuras.
Uma coisa que percebo frequentemente é que pessoas, normalmente pessoas ligadas ao druidismo, wicca ou espiritualidade celta, não veem o Ogham como um oráculo que pode atuar e esclarecer absolutamente qualquer aspecto da vida humana, relegando-o apenas ao aspecto espiritual. Isso contribui para dificultar o estudo oracular do Ogham, por isso poucas pessoas trabalham com esse oráculo no mundo, por acha-lo exclusivo de druidas, magos e bruxas. Eu, como adepto do druidismo e sacerdote Vate, sei que há segredos oghamicos que cabem apenas a mim e esses segredos, definitivamente, não serão revelados aos leigos e curiosos, contudo, é importante frisar que o Ogham pode e deve ser utilizado como oráculo, que irá auxiliar em nossas vidas cotidianas. Deste modo, qualquer pessoa, independente da crença, pode se valer dos aspectos oraculares do Ogham!  
Vamos ao que interessa...
A principal energia masculina no Ogham é representada e simbolizada pelo fid Duir, o Carvalho, pois essa árvore está ligada tradicionalmente aos raios, um dos símbolos por excelência da energia masculina nos mitos indo-europeus, como por exemplo Zeus, Thor e Taranis, deuses masculinos que portam raios. Segundo Robert Graves em sua obra “A Deusa branca” inspirado na obra de Sir James George Frazer “O ramo de ouro” nos diz que há dois reis, descritos como deuses de diversas tradições, que estão sempre em batalha e simbolizam as metades clara e escura das estações do ano, são eles, o Rei Carvalho, simbolizado pelo verão e o Rei Azevinho, pelo inverno. Portanto, o Rei Carvalho representa a metade clara do ano, ou seja, a energia masculina em ascensão. Isto posto, o fid Duir representará em uma jogada o próprio consulente, caso ele seja do sexo masculino, normalmente um homem viril no auge da vida. Também pode representar a pessoa do gênero masculino mais próxima da consulente feminina, como o esposo, o namorado, o pai, o irmão e o amigo.

Cabeça de Pedra de um homem celta, República Tcheca

O outro fid que carrega consigo as energias masculinas é Tinne, o Azevinho. Como visto anteriormente, o Azevinho representa o inverno, portanto a energia masculina em decadência. Neste caso, decadência não significa inferioridade, mas um homem maduro, normalmente na terceira idade ou mesmo um homem, independentemente da idade, que seja prudente, ajuizado e racional. Esse fid, em uma jogada, pode significar um amigo conselheiro, o pai, o avô, um mago, um líder espiritual ou qualquer pessoa do sexo masculino que seja madura e responsável.

No Ogham a principal energia feminina é simbolizada pelo fid Nuin, o Freixo. Podemos perceber essa associação através da interpretação das palavras Ogham ligadas a Nuin, como bág ban, o orgulho das mulheres e bág maise, o orgulho da beleza. Esse fid também é simbolizado pela arte de tecer, um tradicional trabalho associado as mulheres. Desta forma, quando Nuin sai em uma jogada pode significar a própria consulente, caso ela seja do gênero feminino ou a mulher mais próxima do consulente masculino, como sua esposa, irmã, mãe e amiga.


Uma rainha celta por Edwin Austin Abbey

O outro fid associado aos elementos femininos no conjunto Ogham é Saille, o Salgueiro. Como o Salgueiro é uma árvore intimamente ligada à água e à lua, símbolos universais da feminilidade, podemos dizer que é um fid que caracteriza muito bem os aspectos femininos em uma jogada, contudo, assim como Duir representa um homem no auge de sua vida e Tinne um homem maduro, nas feda femininas acontece o mesmo, Nuin representa a mulher no auge de sua vida, enquanto Saille, por suas associações com a lua, a água e a noite, representa uma mulher madura, misteriosa, sábia, bruxa ou feiticeira. Em uma jogada representa sempre uma mulher, independentemente da idade, que carrega as características anteriormente citadas, como a avó, a mãe, a conselheira ou mesmo uma guia espiritual.
Crianças são identificadas, normalmente, pelo fid Ailm, o Abeto ou Pinheiro. Esse fid representa o grito de um recém-nascido, como descrito nas palavras Ogham de Maic ind Óic, tosach frecrai, ou seja, o mais alto dos gemidos e na palavra Ogham de Com Culainn, tosach garmae, o início de um chamado. Esse fid representa o ser-humano no início de sua vida, portanto, crianças, independente do sexo. Se associada com outras feda podemos identificar se é um menino ou uma menina. Também pode significar uma mulher grávida ou a chegada de uma criança.
O fid Beith, Bétula, por ser o primeiro fid, também pode representar crianças ou jovens.
Uma pessoa madura e sábia, independentemente do sexo, é representada pelo fid Ioho, o Teixo. Normalmente representa um idoso, ou alguém que carrega características do arquétipo senex, ou seja, do velho sábio. Representa uma pessoa que possuí experiência de vida, sabedoria e conhecimento.
Adolescentes são muitas vezes representados pelo fid Ruis, o Sabugueiro. Como sabemos, o sabugueiro significa agir impulsivamente, rebeldia, ciúmes, etc. Características clássicas de um jovem que passa pela conturbada fase da adolescência. Também pode representar qualquer pessoa que apresente esse tipo de personalidade explosiva. 
Claro que essas características são gerais e estereotipadas, cabe ao estudioso de Ogham discernir quais os significados são os mais adequados ao analisar a jogada como um todo.
Espero ter esclarecido sobre esse assunto e como o estudo é constante, o tema não se esgota por aqui.
Até a próxima. /|\