quinta-feira, 12 de maio de 2016

Luis - Sorveira por Osvaldo R Feres

Luis por Osvaldo R Feres



Luis é a segunda letra do alfabeto Ogham e está associada à Sorveira.
A origem da palavra Luis pode vir de luise “chama” ou lus “erva” e tem a mesma raiz proto-indo-européia de leuk “luz”. A chama, como vimos, é um dos símbolos da inspiração poética na mitologia celta.
O nome do deus Lugh, talvez tenha a mesma origem etimológica do fíd Luis, que significa “luz”, porém, alguns estudiosos sugerem que a origem do nome desse deus signifique “juramento”, pois seu correlato gaulês, Lugus, foi identificado pelos romanos com Mercúrio, o deus romano dos juramentos.
Durante muitos anos acreditava-se que Lugh, o deus associado ao fíd Luis, seria uma divindade solar, atualmente acredita-se que este deus, muito importante na mitologia gaélica, está relacionado à luz dos raios e relâmpagos, pois Lugh carrega a sua famosa lança, símbolo dos raios e tempestades. O equivalente galês de Lugh é Lleu Llaw Gyffes, uma divindade caracteristicamente solar, portanto, não descarto totalmente a ligação de Lugh com o sol, como veremos a seguir.
Lugh é filho de Ethiniu e Cian, e neto de Balor, por parte de mãe. Balor foi um rei Fomoriano, (os Fomorianos eram uma antiga raça de gigantes, inimigos dos Tuatha de Danann, os deuses irlandeses) descrito como um gigante com apenas um olho no meio da testa, capaz de matar a quem ele olhasse. Na lenda, Balor ouve uma profecia em que seria morto por seu neto, assim, trancafia sua única filha em uma torre para evitar que ela conheça algum homem que a engravide. Cian, um dos Tuatha de Danann, procurando por uma vaca mágica roubada por Balor, descobre Ethiniu na torre, se apaixona por ela e a engravida. Ethiniu concebe três filhos e Balor afoga dois de seus netos no mar, mas o terceiro, Lugh, é salvo pelo deus dos mares Manannan. Posteriormente Lugh torna-se um rei Tuatha de Danann e os lidera na segunda Batalha de Mag Tuired contra os Fomorianos, que são liderados por Balor, o do olho mau. Lugh mata Balor, atirando uma lança em seu olho mau, que volta-se para sua nuca pela força da lança, matando o exército Fomoriano que estava posicionado atrás de seu rei.
Simbolicamente, Balor, o do olho mau, representa as forças destrutivas do sol, a seca e morte, e Lugh, por sua vez, representa a energia dos raios e tempestades, simbolizado por sua lança, que abranda os aspectos negativos do olho do sol, tornando a estação favorável para o plantio. Portanto, Lugh representa, não somente a tempestade e os raios como, também, as energias positivas e férteis do sol, que propiciam o desenvolvimento da agricultura.

O cerco de Lugh por E. Wallcousins em “Celtic Myth & Legend”

Não é a primeira vez, na mitologia celta, que o sol é comparado ao olho do céu, como vemos na origem do nome da deusa britânica das águas termais, Sulis, que pode significar tanto “sol” como “olho” ou “visão” e tem um interessante paralelo com o fíd Luis, pois na Palavra Ogham de Morann Mac Mainn, refere-se à Luis como: “Luz dos olhos, a chama”.
Outro aspecto importante da letra Luis é sua ligação com o gado e as ervas. A Palavra Ogham de Mac ind Óic diz, referindo-se à Luis: “Amigo do gado, querido do gado é a Sorveira por sua eflorescência e penugem” e na Palavra Ogham de Cu Culainn “Sustento do gado”. Sua ligação com o gado é explicita e significa simbolicamente a riqueza, pois o gado, animal muito importante da mitologia celta, é o símbolo máximo da prosperidade, do alimento e do sustento, e servia, muitas vezes, como moeda de troca entre tribos celtas.
O roubo do gado é um dos temas mais frequentes na mitologia celta e o texto mais famoso sobre esse assunto é o Tain Bó Cuailnge (O Roubo do Gado de Cooley). Como o gado representa a riqueza e o poder, talvez esses roubos eram uma forma de rito de passagem para jovens guerreiros, com a finalidade de adquirir fama e reconhecimento.
No festival de Beltane, que acontece no primeiro dia de Maio e marcava o incio do verão, o gado era solto nos pastos e os antigos druidas conduziam esses animais por duas grandes fogueiras encantadas, para protegê-los de doenças.
Os ramos de Sorveira eram utilizados em encantamentos de proteção do gado, para afastar seres mágicos, proteger-se contra magia e suas bagas vermelhas, que nos remetem ao fogo, também eram utilizadas em contrafeitiços. Na Escócia era proibido utilizar a madeira da sorveira para qualquer fim que não seja para ritos sagrados.
Na Batalha das Árvores de Taliesin, a Sorveira é assim descrita:
O Salgueiro e as Sorveiras
chegaram tarde em seus postos.

Sorveira na pedra em Glen Loyne, Escócia.

Significado oracular:

Luis, o segundo fíd, significa riqueza, fertilidade, sustento, ganhos, prosperidade, alimento, dinheiro, vidência, proteção, inspiração, soluções, animais e a cura de enfermidades. Representa todos os ganhos materiais, posses e bens do consultante.
Em seu aspecto negativo Luis significa ataques psíquicos e estagnação financeira, o momento pede que o consultante proteja-se de energias nefastas que estão a caminho.
Em uma visão mais esotérica, esse fíd simboliza a vidência, ou seja, o olho do sol que tudo vê, assim como a capacidade poética e a inspiração divina, provinda do fogo sagrado, presente no centro dos rituais druídicos como um dos elementos primordiais, ao lado da água.


Referências bibliográficas:

Livros:
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CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Editora José Olympio, 2012.
GRAVES, Robert. A Deusa Branca: Uma gramática histórica do Mito Poético. Editora Bertrand Brasil, 2003.
KELLY, Michael. The Book of Ogham. Ebook edition: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2014.
KONDRATIEV, Alexei. Rituales Celtas. Editorial Kier, 2001.
LAURIE, Erynn Rowan. Ogam: Weaving Word Wisdom. Megalithica Books, 2007.
MARKALE, Jean. Merlim, o Mago. Editora Paz e Terra, 1989.
MATSON, Gienna; ROBERTS, Jeremy. Celtic Mythology A to Z. Chelsea House, 2010.
MATTHEWS, John. À mesa do Santo Graal. Edições Siciliano, 1989.
MATTHEWS, John. Xamanismo Celta. Hi-Brasil Editora, 2002.
MONAGHAN, Patricia. The Encyclopedia of Celtic Mythology and Folkore. Facts On File, 2004.
MUELLER, Mickie. Voice of the Trees. Llewellyn Publications, 2011.
MURRAY, Liz e Colin. The Celtic Tree Oracle, a system of divination. Connections Book Publishing, 2014.
RUTHERFORD, Ward. Os Druidas. Editora Mercuryo, 1994.
SQUIRE, Charles. Mitos e Lendas Celtas. Editora Record, 2003.

Sites:
http://www.maryjones.us/ctexts/ogham.html
http://www.maryjones.us/jce/jce_index.html




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